Sentar-se na rua - Coletânea de histórias de uma avó e sua neta
Era quase que uma tradição, fazia calor, Dona Olga desligava a tv e saía para se sentar na porta de casa. Não tinha novela, jornal, nada que a segurasse dentro de casa. Final de tarde era sagrado, jantava (sim, a janta em casa não passava da 18h) e saía para porta de casa.
Na rua onde morávamos, muitos vizinhos faziam isso, inclusive um que ela não gostava muito, e justo esse que era seu vizinho de parede, costumava fazer isso tanto quanto ela.
Ela ficava lá, horas e horas, conversando com os vizinhos, ou comigo mesmo, pois sempre fazia isso com ela. Adorava quando estava calor pra termos essa experiência. Conversávamos sobre tudo, ríamos e uns palavrões às vezes, só quem conheceu Dona Olga sabe a quantidade de palavrões que ela falava quase que diariamente.
Quase toda noite entrava ao anoitecer. Coisa diferente para ela, pois no máximo às 19h já estava na cama. Porém, calorenta que era, não aguentava o verão sorocabano dentro de casa.
Lembro de uma noite, estava eu de tomara que caia e uma jardineira, quando disse pra ela o nome do top "tomara que caia", eu caí sentada no degrau. O tombo não foi proposital, foi sem querer. Ela, rindo, me disse: "É tomara que caia mesmo né". Engraçado como tem coisas que ficam na nossa memória, lembro da risada dela como se fosse hoje.
Dona Olga, não teve muitas alegrias na vida, mas essa era uma delas. Hoje percebo que, quando ela se sentava à rua, ela se desconectava daquela vida de dona de casa a qual fora obrigada a seguir. Se desconectava das obrigações que odiava cumprir. Era mais que o ar fresco da rua, era um ar fresco da vida.



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